sexta-feira, abril 11, 2003

chegou a hora de falar da muda
27/03/2001

Acho que eu ainda não falei da muda....
No meio do campus da Unicamp (que é o Campus Zeferino
algumacoisa), tem uma torre (que como fica no meio do campus, chamam
pomposamente de Pau do Zeferino. Nesta torre funciona a rádio muda.
Aqui na Unicamp, e em outras duas universidades em outras cidades
que eu não lembro quais são, tem o que eles chamam de rádios livres - que
são as coisas mais anárquicas que eu já vi - que se tratam de uma
transmissora de rádio ilegal, dentro do campus, onde quem quiser pode ir
colocar alguma coisa para tocar. As outras duas são a rádio cega e a rádio
surda; a da Unicamp é a rádio muda.
É impressionante, toca de tudo (por tudo, eu quero dizer tudo
menos dança da garrafa e aquele negócio do tigrão que chamam de funk,
embora eu ache que funk seja algo bem diferente), música clássica, jazz,
rap, hip-hop, mambo, salsa, bolero, forró, boi, samba, funk. Moreira da
Silva, Frank Zappa e Jean-Michel Jarre.
Você sabendo o horário dos mano, dá pra escapar do rap e se ouve
algumas coisas bem ineressantes.

E a qualidade dos programas e competência dos locutores é algo
verdadeiramente impressionante.

-Aí galera, (pausa) ouvimos aí Alceu Valença (pausa) com "Não
quero mais brincar de Sol e Chuva" (pausa) e vamos escutar aí agora
Caetano Veloso (pausa) , a música "Estrangeiro".
(Começa a tocar "Leãozinho", toca por dois minutos)
-Pô, foi mal aí (pausa), desculpa galera (pausa), eu botei a
música errada. (a música continua tocando no mesmo volume).
(A música para depois de trinta segundos)
(seguem-se 20 segundos de sons de alguém mexendo numa vitrola)
(Começa a tocar "Estrangeiro")

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-Bom, como estamos com um problema técnico aqui no outro CD,
aguardamos aqui a operação de troca do disco e enquanto isso eu devo ficar
falando alguma besteira por aqui. Vamos ouvir agora, por sugestão de
Renata, Bjork, porque ela viu o filme - (voz baixa afastada do microfone)
como é o nome?
-(voz feminina ao longe) "Dançando no escuro".
-o filme Dançando no Escuro", que a Bjork fez a trilha sonora...
-E atuou também.
-E ela se emocionou muito, chorou bastante no filme.
-(voz feminina, longe mas exaltada) Não chorei não, é mentira.
-Chorou sim, mas o CD já está aqui na caixinha e vamos agora ouvir
Bjork, do filme "Dançando no Escuro".
Toca então uma música de outro disco de Bjork, que não tem nada a
ver com a trilha sonora do filme.

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Mas é melhor quando botam pra tocar o "Quarteto Experimental de
Cordas" ou similar. Se bem que nada ganha para as peças do pessoal de
artes cênicas, aí sim é algo impressionante.

De qualquer forma, não sei de outra rádio em que toque Bjork ou
"Sol e Chuva", por isso eu continuo a ouvir a rádio muda, mesmo sabendo
que de vez em quando eu vou ligar o rádio e ouvir
-Mas... está chovendo.
(ouve-se o barulho de duas quengas de coco sendo jogadas sobre a
mesa e de uma folha de alumínio começando a ser balançada)..



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Isto não tem nada a ver com o resto do email, mas é uma história a
ser contada.
Estava eu comendo no bandejão da unicamp na hora do jantar (eu
podia falar que estava jantando, mas acredito piamente que no bandejão não
há almoço ou jantar, há algo similar a comida (algum genérico (parênteses
dentro de parênteses são de uma introspecção muito grande, não acham))) e
perto de mim tinha um grupo que, entre outros, tinha uma menina de cabelo
laranja (um laranja tanjal) com mechas pretas, um cara de óculos azuis
(se resta alguma dúvida eu especifico, na hora do jantar estava escuro). A
conversa neste grupo pelo que eu entendi, estava girando em torno da
relação entre a menina de cabelo laranja e alguém não presente. "Mas eu
fiquei com ele, não ia namorar, não acho que seja sério". Depois de uns 10
minutos desse pessoal tentando descobrir até que ponto uma relação era um
namoro, um caso, um rolo, ou seja lá o quê, chega aos meus ouvidos a
frase: "Pô meu, puta papo de engenheiro aê".