sexta-feira, abril 11, 2003

POPA em POA

Semana que passou, eu que vos falo me meti num tal de "International Brazilian Symposium on Integrated Circuits, Systems and Devices" ou algo que o valha que sucedeu de ocorrer em Porto Algre (que não sei porque cargas-d'água o povo chama de POA). Meu orientador disse: 'já que vai, fica num hotel bom', logo eu, a contra-gosto, fiquei no Sheraton. O banheiro da recepção do hotel era maior que meu quarto, enfim, Porto Alegre, friozinho, churrasco, gaúchas, hotel de luxo, no mais não foi uma semana das mais desagradáveis não.
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Quando pegamos o avião para lá, entregaram uma Folha de São Paulo na entrada, e tinha uma colona de Carlos Heitor Cony que começava assim: "Se você estiver lendo esse jornal durante alguma viagem aérea, pare de ler agora". Eu parei.
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Minha filosofia era: arroz eu sei fazer. Logo meu cardápio consistia de carne, carne, churrasco acompanhado de carne, cerveja e, para variar, picanha. Picanha mal-passada, bem-passada, na chapa, picanha com alho, picanha especial (que é só a pontinha mais molinha da
picanha) e picanha mineira (que na verdade é provolone assado).
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Chimarrão é uma coisa impressionante. Você anda pelas ruas no fim de semana e é uma porrada de gente bebendo aquele negócio. Pessoas nas praças sentadas na grama, bebendo chimarrão. Tem umas sacolas especialmente feitas para chimarrão: elas tem espaço para a cuia, uma área fechada para guardar a erva mate e um compartimento para guardar a garrafa térmica. E fora essas sacolas é todo mundo carregando aquela
garrafa térmica com água quente.
Legal é o povo na rua vendendo água quente 1 real.
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Bah tchê! Tribom. E todo múndo fála como se estivesse perguntândo. É triestrânho.
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E um amigo meu foi comprar um cartão telefônico:
-Por favor me vê um cartão telefônico.
-São três com vinte e cinco de quarenta. (isso significa que o cartão de 40 unidades custa R$3,25, acredite se quiser).
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E na época em que eu estava na cidade estava tendo uma tal de semana farroupilha. Tinha um parque bem grande onde os caras faziam umas cabanas (piquetes) e ficavam lá com vestimenta completa de gaúchos típicos (os gaúchos típicos são chamados de gaudérios), tomando chimarrão, fazendo churrasco e cantando um monte de música merda tudo em comemoração da guerra dos farrapos. É interessante notar que há todos os detalhes sobre os modos e customes do gaúcho típico mas não existe nenhum indício sócio-cultural sobre a existência de gaúchas típicas.
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Na segunda-feira, arranjamos um lugar lá que tocava rock. Teve três bandas - Laranja Freak, que era boazinha e tinha letras absurdamente trashs, tipo "sua secretária eletrônica tem muito mais sensibilidade que você"; Wonkavision, que é um rockzinho melódico-psicodélico feito o Pato-fu do começo (mas sem as letras de John) e Autoramas, que tem um som bem massa e uma baixista doente-mental (nas palavras dela no meio do show: "minha vida mudou, quando eu comprei uma camisa do Autoramas. Fiquei bem mais feliz, encontrei Jesus e minha vida sexual ficou muito mais criativa"). No mais foi uma noite bem grunge.
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E eu vos digo, receber uma encarada de uma desconhecida feia já é algo bom para a alma, mas receber uma encarada e um sorriso de uma desconhecida bonita então é muito bom.
E com essa eu me despeço. Inté.